Comunicação inclusiva: falar bonito não precisa ser complicado

Comunicação inclusiva: falar bonito não precisa ser complicado

Falar bonito não é falar difícil: o desafio de comunicar sem excluir.

Vamos ser sinceras: quantas vezes você já leu uma mensagem corporativa e pensou "ok, mas o que raios isso quer dizer?". Se isso já aconteceu com você, pode ficar tranquila. Você não tá sozinha nessa.

No mundinho da comunicação corporativa, parece que existe uma competição secreta para ver quem usa mais jargão por metro quadrado. "Vamos granular os insights desse touchpoint" é o novo "vamos conversar".

E aí, no meio de tanto blá blá blá, a mensagem que era para incluir acaba virando um convite velado para se retirar. Porque se você não entendeu, o problema é seu, certo? Errado.

Mas afinal, o que é comunicação?

Comunicar é muito mais do que falar bonito ou escrever certinho. É criar conexão, fazer com que o que você quer dizer realmente chegue até a outra pessoa de um jeito que ela entenda e mais: que ela se reconheça ali.

Não adianta soltar um texto cheio de palavras bonitas se ele não conversa com a realidade de quem está lendo. No fim das contas, comunicar é isso: transformar ideias em sentido compartilhado.

E para isso acontecer, não basta usar as palavras "certas", é preciso considerar o contexto, a vivência e o repertório de quem vai receber aquela mensagem.

Senão, vira aquele comunicado institucional cheio de formalidade e zero empatia, que ninguém entende, ninguém responde, e ainda deixa a sensação de que a empresa tá falando sozinha.

O problema é que a gente cresceu ouvindo que quanto mais difícil for o que você fala, mais inteligente você parece. Quem usava palavras complexas na escola era vista como genial.

Quem escreve e-mails cheios de termos em inglês é considerada estratégica. E aí, sem perceber, a gente começa a reforçar uma ideia torta: a de que só é valorizada quem fala o “corporativês” fluente. E quem não fala? Fica de fora.

Só que essa lógica exclui uma galera. Muita gente boa, com repertório, com vivência, mas que não tem tempo (ou saco) para decifrar linguagem enfeitada. Nesse cenário, comunicação vira uma performance para impressionar, não uma ponte para aproximar. E é aí que a gente precisa repensar tudo.

Comunicar bem é se fazer entender, não impressionar

E aqui entra o ponto chave: falar bonito não é o mesmo que falar difícil. Uma linguagem acessível não é simplória. Pelo contrário: exige cuidado, empatia, técnica e a consciência de que palavras têm poder. Inclusive, o poder de aproximar ou excluir.

Quantas vezes você já teve que ler e reler um e-mail da liderança para entender o que estava sendo pedido? Quantas campanhas de diversidade você viu que usavam termos tão rebuscados que pareciam mais uma dissertação da USP do que um convite real para conversa?

Ou pior: quantas vezes ficou a sensação de que a mensagem foi escrita para marcar ponto com a diretoria, e não para engajar quem realmente faz a cultura da empresa acontecer?

Vou te dar um exemplo real: recebi uma vez uma comunicação interna que dizia, entre outras coisas, que a nova política de convivência corporativa visava "estreitar os vínculos interdepartamentais por meio de uma abordagem sinérgica e dialógica". 

Tradução: vamos tentar conversar mais entre os setores. Pronto. Em menos de dez palavras, a mesma ideia — só que agora, todo mundo entende.

Uma comunicação inclusiva não começa com a escolha do canal, mas com a escolha das palavras. E ela precisa partir do princípio de que todo mundo merece entender, sem precisar “jogar no google” cada frase.

Então como simplificar sem parecer superficial?

Simplificar não é empobrecer. É ter clareza sobre o objetivo da mensagem e sobre quem vai recebê-la. Aqui vão alguns caminhos práticos:

  • 📌 Use frases curtas e diretas. Claridade é um presente, não um defeito. "Vamos remarcar essa reunião?" é melhor que "precisamos alinhar uma nova sinergia de agendas".
  • 📅 Pense em quem vai ler: ela está cansada, com a aba do Slack aberta, mil tarefas na cabeça e um cafezinho frio do lado. Objetividade é um carinho.
  • 🤔 Evite jargões desnecessários. Não é sobre banir palavras técnicas, mas saber quando elas realmente fazem sentido. Se você pode dizer "vamos conversar", diga. Não precisa de "touchpoint estratégico".
  • 💬 Teste sua mensagem com pessoas diferentes. Se mais de uma pessoa não entendeu de primeira, a culpa não é delas, a comunicação falhou.
  • 👀 Contextualize sempre que possível. Não jogue siglas ou expressões específicas sem explicar. A pessoa do outro lado pode não estar no mesmo ritmo que você.
  • 📚 Adapte o tom ao meio. Um comunicado no mural da fábrica não precisa ter o mesmo vocabulário que uma apresentação para o C-Level e vice-versa. Clareza e respeito cabem em todos os contextos.
  • 🧠 Revise com empatia. Antes de enviar, pergunte-se: "Se eu estivesse do outro lado, entenderia essa mensagem de primeira?".

Os benefícios de uma comunicação inclusiva são reais

Mensagens claras economizam tempo, reduzem retrabalho, fortalecem relações e aumentam o engajamento.

Trabalhadoras se sentem respeitadas, lideranças são compreendidas, e todo mundo passa a jogar menos o jogo da adivinhação. E mais: uma linguagem acessível abre espaço para mais vozes participarem da conversa. Porque ninguém quer contribuir onde não se sente convidada a entender.

No fim, a linguagem inclusiva não é sobre usar as palavras certas para parecer moderna. É sobre usar as palavras certas para que mais gente possa se ver ali. Porque incluir também é isso: escrever para que todas possam entender, se reconhecer e responder.

E você, já recebeu alguma mensagem que parecia em outra língua mesmo estando em português?


Se você ainda não me conhece, prazer, sou a Giulia 🩷

Uma mulher transgênero escritora, comunicóloga e, acima de tudo, uma contadora de histórias. Acredito que a comunicação e a moda têm superpoderes: o de incluir quem sempre ficou de fora.