Como surge uma tendência de moda?
Você já se perguntou como as tendências de moda surgem? Neste artigo eu te conto isso e como se adaptar ela ao seu dia a dia - ou não.
Um dia, o mom jeans era cafona. De repente, todo mundo estava usando. Mesma coisa com o rosa choque que dominou as ruas. Ou aquela estética "clean girl" que pareceu ter surgido do nada.
Você já se perguntou como isso acontece? Quem decide que o crochê, o couro sintético ou uma cor específica será o "acontecimento" da próxima estação? Parece mágica, não parece? Como se uma reunião secreta de estilistas e empresários do setor definisse o que você vai querer comprar.
A verdade é que tem muito estudo por trás!
Hoje, a gente vai falar sobre o que acontece nos bastidores do mundo da moda. Eu vou te contar como nasce uma tendência, te mostrando que ela não surge pronta na passarela. Ela é uma onda que começa a ser formada muito antes, muitas vezes em lugares que você nem imagina.
E mais importante: você vai entender como essa onda se propaga e, no final, aprender a identificar o que realmente se adapta ao seu estilo para você não cair na armadilha do consumo impulsivo.
Se você ainda não me conhece, eu sou a Giulia, Personal Stylist e comunicóloga. Eu tô aqui para te dar as ferramentas e a clareza para que você se vista com mais intencionalidade, mais confiança e, claro, entendendo de verdade como as roupas funcionam.
Agora, bora pro que interessa.
Quais são os pilares de uma tendência de moda?
Uma tendência de moda não é apenas uma roupa, um item. É, na verdade, um reflexo de algo muito maior que está acontecendo na sociedade ou no sistema.
O primeiro pilar e a raiz de tudo é o Macrotema. Aqui a gente tá falando de algo que seja o mais maximizado possível, pensa num cenário global, na cultura, na política, na economia e, principalmente, no comportamento das pessoas.
Por exemplo, quando a pandemia nos forçou a ficar em casa, o que surgiu? A busca por conforto, o loungewear, o moletom, o tricô. Isso não é uma cor da moda, é um comportamento (a necessidade de conforto e praticidade) que se traduz em roupas.
Se a sociedade está discutindo sustentabilidade, a tendência se inclina para tecidos reciclados, upcycling e moda de segunda mão. Se há uma nostalgia forte dos anos 2000, como o Y2K, isso reflete um desejo coletivo de revisitar uma época de menor complexidade.
A pergunta-chave aqui é: o que a sociedade está sentindo, vivendo ou precisando? Essa resposta é a faísca.
E vale destacar aqui que a sociedade é uma estrutura muito complexa e cheia de subdivisões, com isso, você vai perceber que muitos comportamentos nos impactam ao mesmo tempo e, com isso, as tendências começam a durar menos e ser cada vez mais frequentes nessa era de informação que vivemos.
Com essa faísca acesa pelo Macrotema, entram em cena as pessoas inovadoras, que compõem o nosso segundo pilar das tendências.
Quem são elas? São as grandes estilistas, artistas, musicistas de vanguarda, o pessoal muito fashionista, e muito além disso, são quase como as primeiras pessoas que traduzem o comportamento cultural e social em estilo. Elas são as primeiras a traduzir tudo isso em algo visível.
Elas pegam a ideia de "precisamos de conforto" e criam um tênis esportivo que parece uma obra de arte, ou um terno com tecido de moletom. Elas experimentam, erram e repetem. Muitas vezes criam ou usam peças que parecem esquisitas no começo, mas que estão plantando a semente da mudança.
Nosso terceiro pilar da tendência é onde a coisa fica estratégica. São as pessoas que chamamos de Coolhunters – caçadoras de tendências.
O trabalho aqui é muito interessante. Elas não criam, elas também observam, mas já numa camada focada na moda. Elas viajam, vão em festivais de música, em bairros underground, analisam dados de redes sociais, vendas, e, principalmente, ficam de olho nas pessoas inovadoras.
Eles buscam a repetição. Quando 3 ou 4 Inovadoras diferentes, em países diferentes, começam a usar couro sintético de uma forma nova, a coolhunter anota. Ela pega esses "sinais" soltos e conecta os pontos.
Ela transforma a intuição das Inovadoras e o sentimento da sociedade em dados e previsões concretas. É um trabalho que, muitas vezes, é feito com até meses ou anos de antecedência.
O ciclo das tendências de moda
Com os dados consolidados, a tendência está pronta para entrar no seu ciclo de vida. E é aqui que a gente, que compra, entra na jogada. Esse ciclo é chamado, muitas vezes, de "Curva de Adoção" e tem 5 etapas.
Presta atenção, porque a velocidade desse ciclo mudou completamente com a era da informação!
A primeira fase é a da semente. A tendência é apresentada, muitas vezes de forma conceitual, nas passarelas de Alta-Costura ou por marcas avant-garde. É caro, é exclusivo, é muitas vezes estranho para o público geral. Pouquíssimas pessoas estão usando.
A segunda fase é a do "efeito influenciador". São as Trendsetters – aquelas que a gente adora seguir, as celebridades, as grandes influencers, as editoras de moda. Elas pegam as ideias da passarela, adaptam para algo mais usável e popularizam. Elas estão "validando" a tendência. A peça ainda é exclusiva, mas a ideia já está na mídia e nas redes sociais.
Pensa em quando o Barbiecore (o rosa choque) apareceu nas coleções e foi imediatamente adotado por celebridades. Foi aqui que ele parou de ser só "cor de boneca" e virou "moda".
A terceira fase é a massificação, a tendência virou um produto comercial. As grandes redes de fast fashion (as gigantes, que têm um poder de produção absurdo) copiam e adaptam o que foi validado. O preço cai, a acessibilidade aumenta, e a peça aparece em todo lugar.
É aqui que a Maioria Inicial (pessoas que gostam de moda, mas esperam um pouco) e a Maioria Tardia (o público em geral) começam a usar. O mom jeans está na C&A, na Zara, no shopping do bairro. O rosa choque está até nas farmácias e nas lojas de departamento. Essa é a fase onde você pensa: "Nossa, todo mundo tá usando isso!".
E aí vem a quarta fase, a da saturação, quando a tendência atingiu o pico. Ela está demais. A gente vê a peça em excesso. O street style se repete. A exclusividade sumiu. O que era um sinal de estilo, agora é só o uniforme.
É nesse ponto que quem consome começa a se cansar (um cansaço visual mesmo) e o ciclo se prepara para mudar. Aqui já estão entrando novos macrotemas e futuras novas tendências.
Na quinta e última fase, a tendência perde a força e chega na sua decadência. Ela entra em liquidação nas lojas. Ela não é mais "cool", ela é apenas "comum". E chega nas pessoas que demoraram pra adotar e provavelmente pouco ligam para moda.
E o que acontece com a peça? Ela não desaparece. Ela vai para o arquivo do tempo. Ela pode se tornar um clássico (como o tênis branco, que não sai de moda, mas perde o hype) ou ela fica obsoleta até que... A roda do tempo gire e ela volte em um novo ciclo. A moda é cíclica!
Como usar uma tendência ao seu favor
Entender esse ciclo é super importante, mas mais importante é saber como você se encontra nele. A indústria quer que você compre na fase da Massificação, que é o auge do desejo.
A sacada não é ignorar a tendência, mas saber se ela conversa com o seu estilo, não só de vestir, mas de vida. Não adianta o tricô estar em alta se você mora numa região que só faz calor. Não adianta a calça de cintura baixa estar voltando se você odeia esse tipo de caimento.
Por isso, eu te dou 3 passos práticos para navegar nesse universo de tendências sem que isso te cause dores de cabeça:
Primeiro: identifique o macrotema, não só o item. Quando você ver uma tendência (tipo, calça cargo), se pergunte: Qual é o comportamento por trás dela? Calça cargo não é só cargo, é o desejo de Praticidade, Utilitarismo e um toque Streetwear.
Se você se identifica com essa vibe (o utilitarismo), você não precisa comprar a calça cargo exata. Você pode comprar uma jaqueta utilitária ou uma bota mais pesada. Você adota o espírito da tendência, não a cópia da peça.
Segundo: onde você está na curva de adoção? Se você é uma pessoa que gosta muito do universo da moda, super lê e pesquisa sobre, é possível que você identifique as tendência já nas fases 1 e 2 (Lançamento e Aceleração). Se você já prefere ver a peça sendo testada e adaptada antes de usar, espere a Fase 3 (Massificação). Conhecer seu próprio perfil te impede de se frustrar por estar usando algo que já "passou" ou que ainda não faz sentido para sua vida.
Terceiro: pergunte-se se essa nova tendência se encaixa no seu dia a dia, na rotina mesma. Ela te faz sentir confiante e autêntica, ou só na moda?
Se você é Minimalista e a moda é Maximalista (muitas cores e estampas), a tendência não é para você. Seus pilares te protegem do consumo que não faz sentido e te dão a inteligência para pegar só o que te serve.
Uma tendência não é universal
Agora, é fundamental injetar um pouco de senso crítico nessa conversa, porque esse tema é muito mais complexo do que parece.
Uma tendência jamais será universal. Uma estética que faz todo sentido para a Geração Z, branca, cisgênero e de classe média de São Paulo, por exemplo, pode ser totalmente irrelevante para a comunidade LGBTQIAPN+ extremamente rica do Rio de Janeiro, ou para a quem é millenial, negro e vive em Manaus.
O mercado de moda, no fundo, é um negócio no sistema capitalista. Ele se alimenta da necessidade de venda e lucro. Pensa assim: é muito mais lucrativo para a indústria tentar colocar o máximo de pessoas possíveis dentro de uma única "caixinha" — a tendência do momento — porque é aí que está o potencial de vender em escala massiva.
A tendência é uma ferramenta de marketing que mira no desejo coletivo, não na sua identidade individual.
E é por isso que a minha mensagem final aqui é: acima de qualquer tendência de moda, respeite a sua identidade. Você acabou de ver o processo estratégico, científico e comercial por trás de cada lançamento. Não se sinta obrigada. Mesmo que a tendência "pegue" no seu grupo social e te convide a entrar, você tem a permissão para dizer "não".
Pense em você como uma pessoa única, de estilo único. A moda é para te servir, e não o contrário.
Moda não é ditadura. A indústria da moda sugere e até força o consumo, mas é você quem dá a palavra final. Agora, você não é mais uma refém do que aparece na vitrine. Você sabe que a tendência é um reflexo complexo da nossa sociedade, filtrada por um monte de gente até chegar ao seu armário.
Inclusive, é possível que você tenha feito parte de um comportamento social que resultou em alguma tendência. Use esse conhecimento para consumir de forma mais inteligente. Consuma o conceito da tendência se ele fizer sentido para você.
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