Visita indesejada

Visita indesejada
Essa crônica é um "terror" cotidinao que pode acontecer com qualquer pessoa e, acredito eu, em qualquer lugar do mundo. Tudo num dia comum de trabalho remoto. É um retrato fiel da vida adulta: tentando manter a compostura enquanto grita internamente.

Poucas palavras descrevem momentos como esse. “Tensão” é uma boa candidata. “Susto” pode ser uma opção. “Adrenalina” também parece muito interessante. Vou ficar com todas.

Antes, preciso descrever o cenário, tá? Eu trabalho no formato híbrido, ou seja, às vezes de casa, outras no escritório da firma. Guardou essa informação? Então tá.

Quando estou em casa, trabalho em um cômodo do apartamento em que vivo e minha mesa fica ao lado de uma janela - o que eu amo. Do lado de fora da janela tem uma pitangueira que cresceu demais, e a única coisa que impede os galhos de invadirem o meu "escritório" é a rede de proteção para os meus 4 gatos, que adoram ficar em cima da mesa observando o mundo lá fora

Sempre me pego pensando o que tem de tão interessante para olhar lá fora. Aí me lembro de uma história - sim vou contar uma história paralela aqui, mas é rapidinho. Em certo momento da vida, morei com uma pessoa um tanto peculiar. Num dia aleatório de inverno, cheguei em casa lá pras tantas, perto da meia noite - eu ainda estudava na época - e essa pessoa estava em pé, enrolada numa coberta e olhando a janela.

Eis que ela começou a me contar um monte de histórias que tinha visto pela janela. Até que eu soltei a pergunta: “Há quanto tempo você tá olhando pela janela?” A resposta foi: há umas 6 horas. Se uma pessoa fica tanto tempo olhando pela janela, porque um gatinho não faria o mesmo, né?

Voltando aqui. A vida não é mil maravilhas, eu sei disso, você sabe disso e está tudo bem. Uma boa paulistana, que nem eu, gosta de ser avisada quando recebe visitas. Acontece que nem toda visita gosta de se anunciar.

Foi assim que 5 minutos antes da próxima reunião do dia, percebi uma presença com a minha visão periférica, que cá entre nós, é das boas. Ela estava logo ali, no parapeito da janela que fica ao lado da minha mesa. Papo de 30 centímetros de distância do meu rosto.

Não era gente, nem um gato. Era menor. Marrom, Corpo oval. Antenas grandes. Viro para olhar e a vejo ali, pertinho de mim. É aqui que resgato as palavras do começo desse texto: “susto”; “tensão” e “adrenalina”.

Exclamei:

– Eita por**!

Sim, a visita indesejada era uma barata.


Se você ainda não me conhece, prazer, sou a Giulia 🩷

Uma mulher transgênero escritora, comunicóloga e, acima de tudo, uma contadora de histórias. Acredito que a comunicação e a moda têm superpoderes: o de incluir quem sempre ficou de fora.